terça-feira, 22 de setembro de 2015

Diário: Um passeio pelos coadjuvantes da Bundesliga (Parte dois)

Texto originalmente publicado em Bundesliga Brasil

Quando se viaja para o oeste da Alemanha, o amante de futebol encontra uma região rica de história no esporte. Com cidades pequenas e próximas umas das outras, o “Vale do Ruhr” é a província mais populosa da Alemanha e berço de grandes times da Bundesliga. É nessa região que estão situados o Borussia Dortmund, Schalke 04, Bayer Leverkusen, Borussia Monchëngladbach e o Colônia, além do Fortuna Düsseldorf, que hoje joga a segunda divisão.

Falarei hoje da segunda maior rivalidade da região. Perdendo apenas para Dortmund x Schalke 04, o clássico entre os times de Colônia e Düsseldorf mereceram atenção especial nessa viagem, já que possuem duas torcidas tão fanáticas que disputam até mesmo na hora de beber cerveja!

 
Rivalidade até na hora de beber! Altbier em Düsseldorf e Kölsch em Colônia

A distância entre as cidades é de apenas 60 km, ou uma viagem rápida de 30 minutos de trem. As vizinhas são extremamente competitivas entre si, com dois estilos bem diferentes. Enquanto Düsseldorf é a capital da moda e a segunda cidade mais rica do país, sediando lojas e marcas caríssimas e sofisticadas, Colônia é conhecida por sua enorme catedral gótica, com uma arquitetura clássica e super preservada.

Há quem diga que a população das duas cidades se odeiam tanto, que não se pode citar o nome de uma na outra e vice-versa. A rivalidade atingiu até a cerveja! Os moradores de Colônia só bebem Kölsch, enquanto em Düsseldorf a escolhida é a Altbier. Tamanha desavença entre as duas não poderia deixar de respingar no futebol.

O FC Köln é hoje quase impossível de não se conhecer, já que foi ele quem revelou o astro do Instagram Lukas Podolski. O atacante viaja à sua cidade natal sempre que possível, e há dezenas de imagens do jogador em muros e próximas ao estádio. Com o perdão da comparação, é o Pelé de Colônia! O estádio está localizado em uma região afastada do centro, como é comum em toda a Alemanha. O RheinEnergieStadion foi construído em uma área completamente deserta e a região se desenvolveu ao longo dos anos graças ao futebol.

No vídeo abaixo, a torcida do Fortuna Düsseldorf na estação central de trem da cidade, antes de viajar a Colônia para o clássico entre as duas equipes em 2013, pela Bundesliga II.



Já em Düsseldorf, o Fortuna vive os últimos anos em uma eterna gangorra entre a primeira e a segunda divisão alemã. Eles não disputam a divisão principal desde a temporada 2013/2014, quando caiu novamente para a Bundesliga II, depois de recém subir. Por muitos anos o Fortuna jogou no Rheinstadion, palco da Copa do Mundo de 74. Mas em 2002 o mesmo foi demolido, e em seu lugar foi construída a moderna Esprit Arena, que hoje comporta 50 mil torcedores.

O último confronto entre as duas equipes foi em dezembro de 2013, quando ambos jogavam a segunda divisão. O Colônia venceu o Fortuna em Düsseldorf, pelo placar de 2x3.

O veredito final por minha parte, depois de permanecer dois dias em cada cidade, ficou com Colônia. Apesar de Düsseldorf ser considerada mais moderna e rica, a cultura e diversão da rival me agradou muito mais (além da cerveja, que também é melhor).

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Diário: Um passeio pelos coadjuvantes da Bundesliga (Parte um)

 Texto originalmente publicado no site Bundesliga Brasil

Estive na Alemanha em julho. Em uma viagem de 25 dias, além de visitar as famosas e gigantescas cidades de Munique, Berlim e Hamburgo, resolvi passar também por quatro municípios “fora da rota”. Além do objetivo de turistar e conhecer novas culturas, não pude deixar, é claro, de me aprofundar na história de cada clube de futebol que movimenta essas regiões.

As escolhidas foram Frankfurt, Berlim, Dusseldorf e Colônia. Apesar de ser a capital do país, Berlim não possui um grande time de futebol. Pouco conhecido, o Hertha mereceu uma visita especial. A segunda parte do diário, sobre o lado oeste do país você confere nesta terça-feira (22).

Em um país onde regras são respeitadas desde berço, educação e qualidade de vida estão nas alturas e a economia funciona perfeitamente, o que difere cada estado e cidade são suas peculiaridades, e isso acabou respingando no futebol com o passar dos anos.

Frankfurt e suas águias vermelhas

Torcida do Eintracht é considerada uma das mais violentas da Alemanha

Com uma economia gigantesca e recheada de bancos e multinacionais, a “Manhattan alemã”, como é chamada, não costuma atrair muita atenção dos turistas convencionais, mas com certeza é um prato cheio para amantes do futebol. E é ali, quase ao lado do poderoso aeroporto, a apenas 10 minutos de metrô, que se encontra a casa do time local.

Poucos se lembram, mas o Eintracht Frankfurt já chegou a uma final de Champions League! Foi na temporada 59-60, quando perdeu para o poderoso Real Madrid pelo placar massacrante de 7x3.  Apesar de não figurar entre os grandes alemães, o time possui uma das torcidas mais fanáticas e perigosas do país. Seu estádio, o Waldstadion, foi comprado em 2005 pelo segundo maior banco comercial da Alemanha.

Commerzbank Arena vista do alto

Com sua sede matriz fixa em Frankfurt, o Commerzbank comprou os naming rights do estádio e hoje a arena que leva seu nome é uma das mais modernas da Alemanha. Foi nela que aconteceu a final da Copa das Confederações de 2005 entre Brasil x Argentina, além de alguns jogos da Copa de 2006.

Berlim e seu modesto representante

Sabemos que a cada passo dado em Berlim ganhamos uma página a mais de aprendizado. A cidade que respira história, no entanto, nunca possuiu uma grande equipe de futebol. Em seu gigantesco e olímpico estádio, cabe ao Hertha figurar no campeonato alemão.

O imponente Olympiastadion

A visita ao Olympiastadion foi feita em uma tranquila tarde de domingo. Mesmo com o campeonato alemão de férias, os tours pelo famoso estádio berlinense estão sempre lotados, ainda mais depois de ter sediado a final da Champions League entre Barcelona x Juventus. Além de grandes histórias do esporte, o tour ainda conta com recheadas páginas de momentos marcantes para o clube azul e branco.


O Hertha Berlim pertence ao lado ocidental da capital alemã, localizado no charmoso distrito de Charlottenburg, um dos mais ricos da cidade. O clube sofreu com a segunda guerra, quando viu sua torcida dividida entre os dois muros. Os fanáticos do lado oriental, porém, não abandonaram a devoção que time.

O meia suíço Lustenberger posando para fotos com seu filho
Ainda do lado externo do estádio estava o jogador Fabian Lustenberger, meia suíço que joga desde 2013 na equipe alemã. Fazendo fotos com o filho para uma campanha publicitária, passei um tempo observando a sessão. Como eu estava trajando uma camisa do meu clube brasileiro, logo fui abordada por um fotógrafo que cobria o evento. Paulo Castro é brasileiro, e trabalha no Hertha Berlim há dois anos, como fotógrafo assistente.

Em um bate-papo rápido antes de adentrar ao tour, perguntei a Paulo como é a relação atual dos torcedores com o Hertha. “Uma característica marcante pra mim por aqui é o fato da torcida não deixar de comparecer ao estádio, mesmo com o time não vencendo nada relevante há anos” afirmou o fotógrafo.

Mesmo sendo o time mais popular de Berlim, o Hertha possui apenas a terceira maior torcida da capital, ultrapassado pelos gigantes Bayern de Munique e Borussia Dortmund. Ainda assim, Paulo Castro conta que a história favoreceu: “O Hertha quase foi extinto durante a Segunda Guerra, mas foi graças a ela que a torcida se fortaleceu ainda mais quando o muro caiu, unindo dois lados por um ideal”, finalizou.

Ao final da quinta rodada da Bundesliga, o Eintracht Frankfurt ocupa a 8ª posição na tabela, com oito pontos somados, enquanto o Hertha Berlim soma sete pontos na 11ª colocação.