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Camisa de Reus para homenagear o craque, que foi cortado do mundial após lesão |
O relógio marcava 6h50 quando o sol já batia forte na janela do quarto. Salvador amanhece incrivelmente cedo, e sempre acordo pensando já ser umas 10h. A ansiedade tomava conta. Comecei a me arrumar às 8h, com medo de chegar atrasada, não podia perder um momento sequer. O jogo começava 13h.
Se no fim de semana a cidade já fervia de ansiedade e de
estrangeiros chegando por todos os lados, na segunda-feira a festa apenas se
consolidou. Alemães desfilavam a todo o momento pelos pontos turísticos da
cidade, sempre muito sorridentes e confiantes. Os ‘portugueses’ mais eram
brasileiros entusiastas e fãs de Cristiano Ronaldo, que pareciam prever o que
estava por vir, e por isso faziam uma festa mais discreta.
Decidimos ir para o jogo de ônibus, eu, Fred e o colega
carioca Filipe, ambos trajados na torcida alemã. Fui de Borussia Dortmund,
enquanto o namorado foi de Bayern de Munique, rivais até nessas horas. Nosso
ônibus partiu rumo a Arena Fonte Nova às 11h15, e a partir daí, um caos se
pairou. O prefeito de Salvador não decretou feriado para os dias de jogos aqui,
tornando o trânsito um inferno até a chegada ao estádio. Nosso ônibus passou
mais tempo parado que andando. O caminho que podia ser facilmente feito em 20
minutos, se tornou uma cansativa viagem de 50 minutos. Nessas horas minha
gastrite já tinha superado todos os limites possíveis.
A chegada
ao estádio
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Arena Fonte Nova recebeu mais de 51 mil pessoas |
Após um longo trânsito, enfim, era possível visualizar o
estádio, só então fiquei mais aliviada. Ainda faltavam cerca de 40 minutos pro
início do jogo. Festa e mais festa, e multidões calorosas iam se espremendo
pelas entradas. Até chegarmos ao nosso local, tudo ocorreu de forma tranqüila.
As centenas de voluntários gritavam e guiavam os torcedores até as diversas
entradas da arena. O maior problema era a falta de instrução dos mesmos para
com os gringos. Era nítido que a maioria ali não sabia falar sequer inglês
básico, o que tornou comum a cena de estrangeiros perdidos pedindo informação a
qualquer um que vissem.
Dentro do estádio, o ‘jeitinho brasileiro’ não podia faltar.
Torcedores que compraram ingressos da categoria 4 (a mais barata, de R$ 60)
deviam sentar em seus lugares, atrás dos gols. Mas é claro que não era isso que
se via. Uma cena se tornou comum: penetras circulavam pelas melhores
categorias, aquelas de lateral do campo (categoria 1 e 2), procurando por
cadeiras vazias para se apoderarem. Os estrangeiros têm costume de entrar no
estádio apenas cinco minutos antes da partida e olhe lá, então quando eram
12h55 muitos começaram a chegar e expulsar os intrusos de seus lugares.
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Minha visão do campo, logo atrás do banco de reserva alemão |
A primeira ministra alemã Angela Merkel acompanhava tudo dos
camarotes. O curioso era o comportamento dos torcedores quando a viram chegando
às tribunas. Em uma fase onde chefes de estado são vaiados pelos brasileiros
nos estádios, Merkel teve toda a atenção dos torcedores, que se viraram de
costas para o campo e tiraram fotos animados da chanceler alemã.
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Groskreutz, Schweinsteiger e Klose no aquecimento |
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Jogadores batem bola no gramado antes da partida começar |
O jogo
Durante toda a partida, um massacre alemão. O técnico
Joaquim Löw não pode contar com Schweinsteiger, ainda recuperando de lesão, e
optou por Khedira. Se esperava que a seleção tivesse algumas dificuldades
defensivas, mas o que se via em campo era um massacre por parte dos germânicos.
Müller foi postado como falso 9, enquanto Klose assistia tudo do banco. Se para
o veterano o objetivo é superar a marca de Ronaldo e se tornar o maior
artilheiro das Copas (faltam dois gols).
Müller então começava a desenhar mais um capítulo de sua excelente história na seleção. Foram 3 gols do até então artilheiro da Copa. Após o fim da partida, o jovem atacante de 24 anos já somava 8 gols em 7 jogos de Copa do Mundo. Se Ronaldo se preocupa a todo momento com a marca a ser batida por Klose, é bom que ele comece a se preocupar com Thomas, que tem tudo para, mais uma vez, brilhar no mundial.
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Pênalti para a Alemanha. A porteira seria aberta por Müller em instantes |
Müller então começava a desenhar mais um capítulo de sua excelente história na seleção. Foram 3 gols do até então artilheiro da Copa. Após o fim da partida, o jovem atacante de 24 anos já somava 8 gols em 7 jogos de Copa do Mundo. Se Ronaldo se preocupa a todo momento com a marca a ser batida por Klose, é bom que ele comece a se preocupar com Thomas, que tem tudo para, mais uma vez, brilhar no mundial.
Já pelo lado português, Cristiano Ronaldo terminou a partida
se arrastando, exausto por precisar comandar uma fraca seleção que depende
totalmente de si. Apesar de boas referências como Pepe e Coentrão, que jogam ao
lado do craque no Real Madrid, os portugueses pouco sustos levaram ao goleiro
Manuel Neuer. A imprudente expulsão de Pepe tornou ainda pior o pesadelo de
estréia dos lusitanos.
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Festa da torcida alemã. Bandeiras tomaram a Arena Fonte Nova |
Os torcedores alemães não se continham sentados. A maior parte deles permanecia sempre em pé, o que me fez trocar de lugar no segundo tempo. Fui para o lado oposto onde eu estava, só para ficar no meio de uma torcida organizada que entoava gritos em alemão durante toda a partida. Os voluntários até tentavam conter a multidão e pedir que ficassem sentados, mas aqui entrava mais uma vez a falta de instrução para os mesmos, que pediam que os torcedores sentassem, em português! Todos, é claro, ignoravam as ordens e permaneciam pulando e cantando durante toda a partida, um protesto ao futebol moderno. Até porque, assistir jogo sentado é agonizante. Estamos em um estádio de futebol, e não no teatro.
Com o 4x0 liquidada, resta à torcida festejar nas arquibancadas. Os alemães pulavam, cantavam e derramavam cerveja em quem
passasse perto. Uma sensacional aula de patriotismo e festa nas arquibancadas.
Enquanto os brasileiros tentavam puxar o insosso grito de “Eu sou brasileiro,
com muito orgulho...” os alemães se divertiam com suas músicas confusas e
gritos de guerra modernos. O único jogador a ter o nome gritado foi Podolki.
“Lu lu lu, Lukas Podolski” gritava a torcida, quando o atacante entrou no
segundo tempo. É nítido o respeito que o atacante do Arsenal tem por todos os
alemães, mesmo não sendo mais titular da equipe.
Festa
pós-partida
Se o jogo todo foi uma grande festa, o pós não poderia ser
diferente. Embalados e sorridentes, os alemães se misturavam na saída a uma
grande quantidade de torcedores do Bahia, que entoavam seus gritos provocativos
ao rival Vitória. Se o clube baiano já havia conquistado Neuer e
Schweinsteiger, foi no estádio que tiveram ainda mais visibilidade. Pude
avistar uma nova febre entre os baianos, que usavam camisas com o nome “Bahia de Munique”.
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Alemanha x Portugal. Um jogo que jamais esquecerei |
O que se pode ver é que a Alemanha deixou sua marca registrada para sempre no coração dos baianos, e também dos brasileiros. Se antes era conhecida como uma seleção fria e séria, hoje é vista como uma das mais carismáticas da Copa, e tem tudo pra chegar longe, mesmo sem sua principal estrela. Reus também era muito lembrado e teve o nome gritado nas arquibancadas, assim como visto em diversas camisas.
Em um dia que começou com o despertar de Michael Schumacher,
em coma por mais de 6 meses, a Alemanha provou que não veio ao Brasil para
brincadeira, e que levará a sério a garra e vontade de conquistar o tetra. Não
falta motivação para os jovens e experientes atletas, e a partir desta Copa,
também não faltará torcida e incentivo. O Brasil abraçou a Alemanha.