quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

La Doce - A Explosiva História da Torcida Organizada Mais Temida do Mundo

O livro de Gustavo Gabria é um convite para descobrir o universo das torcidas organizadas, não só as da argentina, como brasileiras. Nos faz refletir como pode ser sombrio e perigoso a aliança entre torcidas e clubes em todo o mundo.

O autor:   

Gustavo Grabia nasceu em 1967, em Buenos Aires. É formado em ciências da comunicação e iniciou sua carreira na Editora Abril, passando pela Editora Garcia Ferré, pela Revista 13/20 e pelos jornais La Razón e El Expreso. Desde 1996 trabalha no maior jornal esportivo da Argentina, o Olé, onde atualmente ocupa o cargo de editor. Gustavo é considerado o maior especialista argentino em violência no futebol.

“Quando eu era criança, o plano de ir ao estádio era muito mais que ir a um jogo de futebol. Era um lugar de conexão para pais e filhos, para amigos do bairro, um mundo cheio de sensações confortáveis que excediam, e muito, o que acontecia no gramado. Esse mundo foi quebrado a partir da violência das barras bravas. A La Doce é o símbolo mais generalizado dessa violência. Talvez aqueles que lutam contra ela, do lado de fora, apenas busquem recuperar esse universo para se sentirem plenos novamente.”

Início do livro:

Por se tratar de uma história específica sobre a violência das torcidas argentinas, a publicação do livro no Brasil traz um pequeno capítulo de abertura feito pelo jornalista Mauro Cézar Pereira, da ESPN. Mauro é especialista em falar sobre o comportamento das torcidas brasileiras, e conta, em três páginas, um pouco sobre a história das organizadas no Brasil. O capítulo se resume em “Torcida organizada: ruim com ela, pior sem ela” onde o jornalista conta capítulos em que as TO’s brasileiras já foram fundamentais para apoiar e salvar seus times de momentos ruins, mas que estão se tornando cada vez mais comuns em episódios de violência e impunidade no país. As autoridades punem, de maneira errada, o clube, e deixa de lado os principais culpados.

“Violência em torcidas organizadas é caso de polícia, de segurança pública. Belas festas e apoio ao time em campo é coisa do futebol. Ao estilo brasileiro ou à moda argentina, o bom é fazer os torcedores ficarem reunidos. Separar a parte podre, isolá-la, eliminá-la é o desafio. Futebol sem torcida é futebol sem festa. E futebol sem festa não é futebol.”

Formato da publicação e ideia geral do livro:

Gustavo Grabia deixa claro desde o início da publicação, que a gravidade do poder de La Doce é tanto, que parece impossível mudar o cenário. “La Doce é a torcida que tem mais contatos políticos, que trabalhou tanto para o justicialismo como para o radicalismo, e chegou a participar de operações políticas montadas pela Side, antiga Secretaria de Inteligência do Estado. É a única torcida do mundo a criar uma fundação legal para lavagem de dinheiro proveniente da extorsão de políticos, empresários e desportistas, bem como o financiamento sem escrúpulos pela revenda de ingressos, a gestão de ônibus para levar torcedores ao interior, o estacionamento nas ruas de La Boca cada vez que havia uma partida, e o merchandising. Isso sem contar a porcentagem arrecadada pelas concessões feitas a barracas de alimentos e bebidas no estádio.”

O livro segue uma ordem cronológica de fatos. Inicia-se contando como surgiu e o porquê do nome de La Doce (uma referência ao décimo segundo jogador em campo, a torcida). Gustavo apresenta dados da própria polícia argentina, de histórias de violência que já ocorriam na década de 60. 
O torcedor do Boca Juniors passou a ser chamado de “O Furioso” já nas décadas de 70 e 80, e era apresentado como “aquele que insulta os jogadores quando perdem e os defende a ponto de arriscar sua vida quando ganham. Para ele, ou você é do Boca, ou é inimigo. O torcedor do Boca faz mal ao Boca por querer fazer o bem.” disse um dos antigos líderes da barra brava.

A publicação traz ainda muitos nomes e personagens, o que pode tornar a leitura cansativa para quem não é fanático pelo futebol, e é preciso conhecer um pouco da história do esporte na Argentina. Gustavo passou três anos estudando a fundo todo o material que conseguira reunir sobre a La Doce. Trata-se de uma pesquisa minuciosa sobre cada detalhe da torcida em toda sua história. São dados de todos os líderes que já passaram pela presidência de La Doce, e todos acabaram presos ou envolvidos em escândalos.

Rafa Di Zeo e Mauro Martin: rivalidade dentro da torcida
O período mais crítico foi nos anos 90, quando Rafa Di Zeo assumiu a liderança da torcida. Di Zeo implementou uma visão “empresarial” dos negócios ilícitos da “12”. Recebia ingressos do clube e também garantiu uma parte do dinheiro daqueles vendidos nas bilheterias. Uma das maiores demonstrações de poder foi o direito de administrar o estacionamento da rua Del Valle Iberluzea, uma das principais que dão acesso ao estádio do Boca.

“Não sou poderoso, mas tenho o telefone dos poderosos” diz Rafa. Sua rede de contatos atingia inclusive a funcionários do governo portenho. Tinha acerto com os policiais da 24ª Delegacia, sediada no bairro de La Boca e inclusive compartilhava com eles, os mesmos advogados. Como nos melhores filmes de máfia, depois que Di Zeo é preso, assume o poder seu braço direito: Mauro Martín, com a promessa de devolver o comando da barra quando Rafa saísse da prisão.

Neste ano Di Zeo foi solto e em uma entrevista exclusiva a um canal de televisão aberta, avisou que queria sua barra de volta. Di Zeo e Mauro racharam a torcida, e o que se via nas arquibancadas eram torcedores do mesmo clube duelando e lutando por poder, deixando o jogo de lado. Os canais de televisão por momentos esqueciam-se dos jogadores no campo e do que acontecia no palco principal, para filmar as duas personalidades penduradas nas arquibancadas. Inclusive com tela dividida e close nos novos protagonistas.

O atual presidente de La Doce, Mauro Martín, está preso acusado de assassinato do vizinho de seu cunhado. Também foi indiciado por formação de quadrilha e envolvimento em uma briga de torcida no jogo contra o Newell’s Old Boys, pela Libertadores desse ano. Na ocasião, mais de 50 membros da La Doce foram detidos.

Barras Bravas

É um tipo de torcida da América Latina que incentiva as equipes com cantos, fogos de artifício e uso de faixas, mas que também são responsáveis por atos de violência. Esses grupos surgiram nos anos 70 na Argentina e no Uruguai. As mais tradicionais, além de La Doce, do Boca, são a Los Borrachos Del Tablón, do River Plate, e a La Guardia Imperial, do Racing Club, todas da Argentina. O país vizinho já registrou mais de 70 mortes em três décadas. Os barra bravas argentinos chegaram ao ponto de exportar os métodos de violência para outros países.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A prepotência da Federação Paulista de Futebol

O que vimos ontem no Pacaembu, na partida entre Corinthians x Mogi Mirim, deve ser apenas o começo. No intervalo de jogo, parte da torcida se reuniu e realizou um protesto pacífico, contra o aumento do valor de ingresso imposto pela Federação Paulista de Futebol, que obriga todos os clubes a cobrar um mínimo de R$40 em suas partidas.

Não é a primeira vez que a torcida do clube protesta contra o preço abusivo dos ingressos; No início do campeonato, faixas foram estendidas na sede da Federação. Com o argumento de favorecer times menores, a FPF emplaca mais uma de suas lambanças constantes. 

Torcida do Corinthians protesta em frente a sede da FPF (Foto: Erika Papangelacos)

O presidente Marco Polo del Nero adora falar aos quatro cantos o quanto o Campeonato Paulista é o mais disputado e equilibrado do país. Nos últimos anos, a tabela foi mudada e mais jogos foram incluídos, como as desnecessárias oitavas e quartas de final. Tudo isso para dar mais chances aos pequenos times do interior.

O campeonato estadual serve para preparação dos times grandes e uma aproximação maior com o torcedor que vive no interior, e é papel dos times grandes atrair um bom público para as partidas. Com o aumento abusivo do preço dos ingressos, o que vemos são estádios vazios. Os times pequenos costumam cobrar entre R$60 e R$80 pelo ingresso visitante, um preço absurdo para um campeonato estadual que costuma ser recheado de estádios irregulares, que não oferecem uma boa infra-estrutura para o torcedor acompanhar os jogos. 

Não contente em obrigar os clubes a cobrar tão caro pelos ingressos, a Federeção Paulista impõe horários ridículos, “obrigando” o torcedor a manobras arriscadas para acompanhar o jogo do seu clube. A estreia do Corinthians em casa, depois de conquistar o Mundial, tinha tudo para ser uma grande festa em um Pacaembu lotado. O jogo foi marcado para uma quarta-feira, às 17 horas!!! O argumento usado foi o fato de o São Paulo jogar no mesmo dia, pela Libertadores, às 21h50. Todos sabiam o que aconteceria, menos a FPF. Assim que acabou o jogo no Pacaembu, torcedores de Corinthians e São Paulo acabaram se cruzando nos metrôs. Não seria mais fácil ter mudado o jogo do Corinthians para quinta-feira?

Torcida protesta contra a elitização nos estádios (Foto: Gabriel Uchida)

Ontem, contra o Mogi Mirim, o Corinthians jogou às 22h. O horário é cruel para o torcedor, já que a partida costuma terminar próximo da meia noite, horário em que o metrô fecha e muitos acabam ficando sem maneira de voltar para casa. Sabemos que o argumento maior é a Rede Globo, que só pode exibir os jogos nesse horário. Acontece que o jogo de ontem era de canal fechado! Qual a dificuldade em marcá-lo para mais cedo, em um horário agradável para todos, como 21h?

São atitudes como essas que afastam cada vez mais o torcedor do estádio. Horários péssimos + ingresso caríssimo, para um campeonato cansativo que só engrena depois de 19 longas rodadas, e geralmente é jogado com time misto ou reserva pelos grandes.

A Federação Paulista visa apenas seu próprio benefício e esquece do torcedor, a figura mais importante do futebol.